quinta-feira

PONTAPÉ INICIAL

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FALE CONOSCO: flaviomcas@gmail.com

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RESUMO DA VIAGEM:
Trajeto: De Brasília ao Monte Aconcágua (Argentina) e Deserto do Atacama (Chile)
Participantes: Paulo Amaral, Flávio Faria e Rosane (na garupa de Porto Alegre a Santiago do Chile)
Motos Utilizadas: 2 Suzuki V-Strom DL 1000
Período: de 6 a 26 de outubro de 2009 (Primavera)
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PLANILHAS:
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RELATADO POR FLÁVIO FARIA:

Brasília, 8 de outubro de 2009.

Meu amigo Paulo Amaral saiu de Brasília no dia 6.outubro.2009, em direção a Santa Maria (RS), onde passará alguns dias com parentes. Uma viagem de mais de 2 mil km, sozinho, sobre sua moto VStrom DL 1000, em período bastante chuvoso. Seu primeiro pernoite foi em Araras (SP), a 840 km de Brasília. Ontem, dia 7, dormiu em União da Vitória (PR), acerca de 1600 km daqui. Muita chuva, vento e cerração pelo caminho, mas a viagem segue o planejado. Na tarde de hoje, chegará em Santa Maria.
Eu (Flávio Faria) e minha esposa Rosane partiremos de Porto Alegre no dia 10.outubro e nos encontraremos com Paulo em Santana do Livramento/RS, na fronteira do Brasil com o Uruguai. Depois de relutar muito, resolvi enviar minha moto num caminhão-cegonha de Brasília para a capital gaúcha, com antecedência de 1 semana. Infelizmente, só tenho 20 dias de férias e ficou apertado realizar este projeto pilotando desde Brasília. O deslocamento até a fronteira uruguaia me obrigaria a gastar 3 ou 4 dias, quase 20% do tempo livre que disponho para esta viagem. No mais, passamos pelas rodovias do sul há 10 meses, quando fomos a Ushuaia (http://ateofimdomundoemduasrodas.blogspot.com/), e não encontrei estímulo para repetir o mesmo percurso em intervalo tão curto.
Outro fato que considerei diz respeito à Rosane, que está na fase final de uma pós-graduação e não poderá cumprir todo o trajeto conosco por absoluta falta de tempo. Ela irá na minha garupa até Santiago do Chile, e retornará de avião para casa, no dia 19. Uma pena! Minha companheira, sempre tão presente, vai fazer muita falta. Ela perderá o belíssimo percurso pelo litoral Pacífico (de Santiago até Antofagasta) e a chance de rever o Deserto do Atacama. Lembro que já estivemos nesta localidade há exatos 2 anos, em outubro de 2007, também ao lado do amigo Paulo Amaral (http://viagematacama.blogspot.com/).
De Santiago em diante, eu e Paulo seguiremos sozinhos em nossas duas motocicletas. Infelizmente, não foi possível montar uma logística que atendesse a todos, que vivemos atolados com obrigações de trabalho, estudos e família.
Esta é a terceira viagem de moto que fazemos juntos pela América do Sul (dentre as cinco já realizadas nesta parceria) e, como em todas as outras, certamente acrescentará muitas coisas boas à nossa alma. Temos aprendido muito com as diferentes culturas, com os cenários, com a flora e a fauna deste continente tão amigo. Vamos lá para mais este desafio!
(fotos de Paulo, Flávio e Rosane, na viagem de 2007 ao Deserto do Atacama)





quarta-feira

DE PORTO ALEGRE A MENDOZA (Argentina)

Sábado, 10 de outubro de 2009-10-13
DE PORTO ALEGRE A SANTANA DO LIVRAMENTO – 510 km rodados das 9:55h às 16:20 – 6:25h de pilotagem


Saímos direto da transportadora Transtana para a estrada, sem nenhuma pressa, visto que tínhamos o dia inteiro para rodar apenas 510 km. Pegamos engarrafamento sobre a ponte do rio Guaíba e congestionamento de automóveis até 200 km de Porto Alegre. Lembro que estamos em final de semana ligado com feriado na segunda-feira e muita gente está aproveitando para viajar. Muitas motos na rodovia seguindo para o encontro do MercoCycle, em Santa Maria.
Cortamos parte do Rio Grande do Sul em direção à fronteira uruguaia. Um cenário exuberante de pradarias, alagados e córregos (arroios). Passamos por diversos povoados simpáticos e bem cuidados, repletos de chaminés fumegantes e de varais com tapetes de pele de boi estendidos para arejar ao sol.
Chegamos em Santana do Livramento por volta das 16 h e saímos em busca de um hotel. Rodamos para todos os lados e não havia vaga em lugar algum. Por estarmos no início de um feriadão, era esperado que a cidade estivesse lotada, particularmente por fazer fronteira com a zona franca de Rivera (Uruguai), que a faz ser muito frequentada pelos ávidos consumidores do Sul, que correm para lá em busca de eletrônicos, perfumes e bebidas importadas.
Só conseguimos encontrar um lugar para dormir graças à persistência do moto-taxista Renato, que nos ajudou a vasculhar todos os locais possíveis e imagináveis das duas cidades (Livramento e Rivera). Depois de uma dúzia de tentativas, encontramos vaga no motel Europa, uma espelunca de quinta categoria. Fazer o quê? Diante da falta de opções, ficamos por lá mesmo.
(fotos da moto e com o Renato, amigo incidental nesta viagem)


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Domingo, 11.outubro.2009
DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS a ROSARIO DEL TALA, ARGENTINA - 503 km rodados - entre 10:30h às 19:35h - 9:30 h de viagem no dia. Total rodado até aqui: 3014 km (Paulo); 1013 km (Flávio); sendo358 km no Uruguai e 130 km na Argentina.

Eu sempre achei que uma boa viagem de motocicleta tem que ter um pouco de sofrimento. Mas a dose de hoje foi cavalar! Vou itemizar para ficar mais fácil a leitura:
a) Dormimos muito mal nesta noite, no motelzinho vagabundo citado no relato de ontem.
b) Acordamos hoje bem cedo, sob um tempo diluviano. Chovia intensamente! As ruas de Livramento e Rivera viraram rios de água. Fomos encontrar o Paulo Amaral no posto da polícia rodoviária por volta das 8:30 h. De lá seguimos para a Aduana uruguaia embaixo de um aguaceiro danado. Paulo só conseguiu autorização para entrar no país depois de pagar uma multa de R$ 60,00, porque em sua última viagem esqueceu-se de registrar a “saída” do Uruguai. Lá se foi mais de 1 hora para resolver todos os trâmites aduaneiros.
c) Tínhamos planejado chegar em Rosário, na Argentina, por volta das 16 h e pernoitar por lá. 680 km não são lá grande coisa. O tempo dava de sobra.
d) Pegamos a estrada exatamente as 10:30 h. Fizemos quase a metade do trajeto uruguaio de 360 km embaixo de espesso temporal. Mesmo com a vista semi-encoberta, pudemos apreciar as planícies alagadas e os pastos imensos repletos de cavalos, bois gordos e ovelhas rechonchudas.
e) Passamos por Taquarembó e, dali, entramos na Ruta 26 para Paysandu, cidade fronteiriça com a Argentina. Uma rodovia em estado precário, com muitos buracos, empoçamentos e lama. Nenhum de nós sabia que neste trecho não existe um único posto de gasolina. Se não tomarmos o cuidado de abastecer em Taquarembó, certamente ficaremos sem combustível. Só fiquei sabendo disso depois, às duras penas.
f) Passamos por Taquarembó e não abastecemos. Pelo caminho, bem no meio da ruta 26, percebemos que nossa gasolina não nos levaria a lugar algum. Fazia frio de aproximadamente 13 graus e chovia. Começamos a buscar informações com transeuntes sobre “onde comprar combustível por aquelas paragens”. Ah sim, claro, muitas chácaras e povoados, entre 5 e 10 km da rodovia, poderiam nos vender alguns litros. Mas quais? Iniciamos uma via sacra, num entra-e-sai incessante pelas fazendas marginais à pista. Para chegar a elas, muita lama e lodo, por estradinhas péssimas. Acho que já tínhamos procurado em mais de meia dúzia dessas localidades, quando no retorno de uma delas minha moto patina no lodo e eu levo um tombo cinematográfico com a Rosane na garupa.
g) Para piorar, caímos de costas dentro de um pequeno córrego formado pela enxurrada, com a água cobrindo a metade de nosso corpo (na horizontal). A queda foi tão inusitada que entrou água dentro do meu capacete. Nenhum dano aparente, exceto o manete da embreagem quebrado e a sujeira entranhada nas roupas. Foi um pouco difícil erguer a moto no piso escorregadio, mas conseguimos por meio de esforço triplo.
h) Só conseguimos achar gasolina por volta das 16 h num armazém de estrada. Para chegar lá, tivemos que atravessar um córrego a pé, com água na altura das canelas, e trazer os galões na mão. Sequer tínhamos rodado 300 km no dia. Naquela altura, já devíamos ter chegado em Rosário, mas ainda estávamos em pleno Uruguai, encharcados, sob um frio de trincar os dentes.
i) Convém informar que minha moto + passageiros + acessórios + bagagem está pesando quase meia tonelada e foi muita bobagem da minha parte encarar uma estrada enlameada com a moto nestas condições.
k) Depois desta novela toda, adentramos a Argentina por Colón e fomos dormir em Rosário del Tala, 180 km antes de Rosário, o destino planejado para hoje.
l) Ter rodado tão pouco hoje (só 503 km) vai nos obrigar a pilotar mais de 1000 km amanhã, porque temos reserva fechada em Mendoza. O maior desafio será da Rosane, porque não é mole suportar tanto tempo na garupa, mas vamos tentar!
m) Chegamos em Rosário del Tala e demoramos quase 2 horas para achar um hotel. Mais uma espelunca no nosso currículo. Outro hotelzinho vagabundo com chuveiro quase em cima do vaso sanitário.
Findamos o dia exauridos!
(fotos na fronteira Uruguai/Argentina)





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12.outubro.2009, segunda-feira
DE ROSARIO DE TALA A MENDOZA, ARGENTINA – 1062 km rodados no dia – Das 6:00h às 19:25 – 13:25h de pilotagem. Total rodado na viagem: 2075 km (Flávio); 4076 km (Paulo); sendo 358 km no Uruguai e 1192 km na Argentina.


Ufa, conseguimos chegar a Mendoza, onde passaremos 4 dias. Tivemos que superar 1062 km de estradão no dia de hoje! Mais difícil que pilotar isso tudo, foi suportar o cenário repetitivo deste trecho. Excetuando a passagem por Rosário, onde trafegamos pelo meio de um verdadeiro pantanal formado pelas águas do rio Paraná, não vimos nada de interessante pelo caminho.
Para cumprir a quilometragem de hoje, tivemos que reduzir o tempo das paradas e andar rápido, a ponto de as motos fazerem entre 10 e 12 km/l. Esse consumo não é de assustar porque, com a gasolina daqui, nossa média tem sido em torno dos 14 km/l. A moto bebe como um gambá!
Toda vez que paramos para abastecer, tento colar o adesivo do Águia Solitária, motoclube ao qual pertencemos, no posto de gasolina. Ficamos emocionados quando vimos outro adesivo dos "águias" na entrada do restaurante do posto de San Luis (a 180 km de Mendoza). Não sabemos quem foi que o colocou ali.

SOBRE MENDOZA:
A cidade é linda sob todos os aspectos. Uma obra-prima do esforço humano de edificar uma cidade no meio de uma região desértica, sem água, numa zona sísmica das mais ativas do mundo (há cerca de 20 abalos sísmicos imperceptíveis e diários por aqui). Grande parte do abastecimento de água vem do degelo dos Andes. Há milhares de pequenos canais por onde fluem as águas vindas da Cordilheira, que dão característica especial ao lugar. É difícil imaginar que haja localidade mais arborizada neste planeta. São dezenas de milhares de árvores centenárias em derredor das ruas e avenidas, especialmente plátanos, algarrobos, fréscios e amoreiras, dentre as 90 espécies trazidas para cá.
Nem é preciso dizer que Mendoza é a “capital do vinho”. Uma das 4 maiores produtoras mundiais desta bebida. Também guarda a fama de produzir os azeites de melhor qualidade da Argentina.
Embora tenha sido fundada 1561, a arquitetura de Mendoza é moderna. A cidade foi completamente destruída pelo terremoto de 1861, quando 60% de sua população foi dizimada. Foi reconstruída do zero! E quase não se tem vestígio do que existia antes do terremoto.
Daqui partiu o Exército de Los Andes, liderado por San Martin, que decretou o fim da dominação espanhola sobre a região, numa das mais sangrentas batalhas sul-americanas que se tem notícia.
É isso aí, nosso tempo está curto, mas vamos tentar postar notícias novas mais tarde.

(fotos na placa de estrada e no Cerro de la Gloria, em Mendoza)


DE MENDOZA A SANTIAGO DO CHILE

De 13 a 15 de outubro de 2009 – 3 DIAS CURTINDO MENDOZA

Continuando o que eu estava dizendo, Mendoza guarda uma surpresa boa em cada esquina. Povo simpático, restaurantes charmosos, serviços de primeira. Vamos lá às nossas principais atividades por aqui:
a) Hoje (dia 15) tentamos ir ao Monte Aconcágua para fazer fotos e filmagens. Saímos de Mendoza depois das 10h, acreditando que quanto mais tarde, mais quente o tempo por lá. Tivemos informações de um casal que chegou ontem de Santiago que havia neve na pista e isso pode ser perigoso para quem viaja de moto. Fizemos um passeio lindo de 400 km pelo Andes, através de suas curvas infinitas e de dezenas de túneis estreitos que perfuram suas montanhas nevadas. Passamos por Potrerillo (estação de esqui e de rafting), Uspallata (cidade onde foi produzido o filme 7 Anos no Tibet, com Brad Pitt) e Los Penitentes (um dos principais pontos de partida dos alpinistas que almejam escalar o Aconcágua). Ao chegar em Los Penitentes, a 7 km do Aconcágua, tivemos que voltar, porque começou a nevar forte. Foi meu primeiro contato com a neve. Uma coisa emocionante, belíssima! Parecíamos crianças observando os floquinhos brancos caindo sobre nossas cabeças. A sensação térmica naquele momento era de 10 graus negativos, parecida com a que encaramos em Ushuaia. Soubemos por aquelas localidades que, neste período do ano, só é possível ver claramente o Aconcágua pela manhã. À tarde, o monte fica encoberto por uma névoa branca e não dá para ver o cume.
b) Ontem (dia 14), fizemos um passeio pelas vinícolas de Mendoza para conhecer suas principais “Bodegas”, ou fábricas de vinho. Aprendemos superficialmente a degustar e a identificar a qualidade dos diferentes vinhos e uvas. Também visitamos uma fábrica de azeite tradicional, que ainda mantém os mesmos métodos de produção de dois séculos atrás.
c) Anteontem (dia 13), realizamos um tour pela cidade, num microônibus de uma agência de turismo local. Conhecemos o magnífico Parque San Martin e visitamos a obra de arte magnífica do Cerro de la Glória, um conjunto de esculturas em bronze que conta a história do Exército de los Andes, que trouxe a independência à região depois de longa batalha contra o domínio espanhol. Esta obra é a estampa da nota de 5 pesos argentinos.
Amanhã iremos para Santiago do Chile, mas antes vamos parar no Monte Aconcágua e em Puente del Inca, duas localidades imperdíveis deste nosso empreendimento.
(fotos no Parque San Martin e nas Bodegas)










































NO CAMINHO DE SANTIAGO DO CHILE
Dia 16.outubro.2009 - sexta-feira
De MENDOZA a SANTIAGO DO CHILE - 376 km rodados das 8:50h às 20:10h. Tempo total de viagem: 10:20h. Total rodado na viagem: 2860 km (Flávio); 4861 km (Paulo); sendo 358 km no Uruguai, 1802 km na Argentina e 175 km no Chile.
a) Hoje gastamos um tempo imenso para fazer o curto trecho até Santiago, de apenas 376 km. Havia muita coisa linda para ser fotografada e resolvemos nos empenhar nesta atividade, sem qualquer pressa. Nossas paradas constantes consumiram todas as baterias das máquinas fotográficas e filmadoras.
b) Desta vez foi possível passar pelo Aconcágua e pela Ponte del Inca, localidades que não conseguimos chegar ontem por causa da neve. Tivemos que fotografar o monte de quase 7 mil metros de certa distância, da própria rodovia, porque para chegar mais perto seria necessário atravessar o Parque do Aconcágua, cuja pista estava coberta de gelo. Não dava mesmo para encarar o trajeto sobre duas rodas. Já nos basta o tombo no Uruguai.
c) A neve acumulada nas bordas da rodovia e em cima das montanhas trouxe especial beleza ao trecho de hoje. O frio estava de doer, com sensações térmicas muito abaixo de zero. Passamos pelos Caracoles com bastante tráfego de caminhões, mas foi possível apreciar o esplendor das curvas fechadíssimas, em trecho de descida acentuada da Cordilheira. Chegamos a uma altitude de 3180 m antes do inicio dos Caracoles.
d) Adentramos o Chile pelo Paso Los Libertadores, logo após atravessar o Túnel Cristo Redentor, com 3 km de extensão.
e) Chegamos em Santiago por volta das 16 h e logo descobrimos que para transitar pelas autopistas é preciso pagar uma taxa diária de quase R$ 10 por moto. Há um sistema sofisticado de monitoramento por câmeras espalhadas por toda a cidade. Depois de ficarmos perdidos por quase 2 horas (mesmo com GPS), contratamos um táxi para nos guiar até o hotel.
f) Deu tempo para conhecermos um pouco da noite santiaguense. Impressiona a quantidade de pessoas de todas as idades lotando bares e restaurantes (todos muito charmosos). O preço do táxi é muito barato em relação ao Brasil e transitamos bastante pela noite.
(fotos da Puente del Inca, Caracoles, Aconcágua e Fronteira do Chile com Argentina)
















































































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Dia17.outubro.2009 – sábado
PASSEANDO POR SANTIAGO E ARREDORES (Vale Nevado)

Sempre digo por aí que Deus me deu duas coisas grandiosas: Nariz e Sorte! Depois do tombaço no Uruguai, logo no segundo dia de viagem, pensei que a sorte havia me abandonado e que só havia me sobrado o Narigón. Mas não!
Olhem só que coisa legal. Há dezenas de anos a neve não dura até outubro, mas neste ano, em plena primavera, a estação de esqui do Vale Nevado continua aberta (até amanhã somente). Conseguimos, num golpe de sorte, entrar na penúltima excursão para o local. Conhecer o Vale Nevado (com neve) era um sonho, mas não esperava que fosse nesta oportunidade, por causa do período avançado do ano. Para quem ainda não conhecia a neve, como nós, foi uma experiência de primeira grandeza ter estado lá. Trata-se de um dos locais mais pitorescos da América do Sul. As fotos falarão por si.
(fotos no Vale Nevado)




























terça-feira

DE SANTIAGO AO ATACAMA

MAIS FOTOS DO VALE NEVADO, atendendo aos pedidos de alguns amigos:












































Dia 18.outubro.2009, domingo
CONHECENDO VALPARAÍZO E VIÑA DEL MAR

Aproveitamos nosso último dia em Santiago para fazer um passeio obrigatório: conhecer Valparaízo e Viña del Mar, cidades litorâneas ao Oceano Pacífico. Deixamos as motos na garagem do hotel Temporent e pegamos o metrô até a estação Universidad de Santiago. Nesta estação funciona também um terminal de ônibus, de onde partem veículos a cada 15 minutos para estas duas cidades. Tudo muito rápido. Em menos de 2 horas já estávamos em nosso destino.
Pensávamos em fazer um passeio independente, mas percebemos que era impossível conhecer essas duas localidades sem apoio de um guia. Resolvemos entrar num tour que estava saindo praticamente no mesmo momento da nossa chegada.
Em resumo: fizemos o tradicional passeio por parques, praias, museus e monumentos; visitamos a casa onde Pablo Neruda viveu com uma de suas 3 esposas; almoçamos em restaurante panorâmico e, às 18 horas, retornamos para Santiago, da mesma forma que viemos: ônibus e metrô.
Esta será a última noite de Rosane ao nosso lado. Amanhã ela retornará ao Brasil de avião. Uma pena! Perderemos a companheira alegre, sempre animada, dona de uma energia e de uma garra imensurável. - Rosane, você é uma pessoa rara, muitíssimo especial e muitíssimo belíssima (como diz nosso queridíssimo amigo Viriato). Não é qualquer pessoa que encara 3 mil km na garupa de uma moto, enfrentando neve, chuvas, ventanias e temperaturas abaixo de zero. Espero que a riqueza da experiência de ter conhecido este pedaço da nossa América seja guardada em seu coração como mais uma realização vitoriosa em sua vida. Você é demais!!!! Te amo mucho!














(foto no Moai trazido da Ilha de Páscoa)













(com os amigos: Marisol, Michael e Aidil )















(vista Panorâmica de Valparaizo)

Dia 19.outubro.2009, segunda-feira
DE SANTIAGO A CHAÑARAL – 988 km rodados, entre 7:38 h e 20:20 h. 12:42 h de pilotagem. Quilometragem total até aqui: 5849 km (Paulo) e 3848 (Flávio), sendo 358 km no Uruguai, 1802 km na Argentina e 1163 km no Chile.

a) Tomamos nosso café da manhã com a Rosane, no próprio hotel, demos nossos abraços e beijos de despedida e retomamos nossa viagem. A partir de agora, apenas eu e Paulo. Uma viagem, literalmente, de macho (pero non mucho).
b) Pegamos a Carretera Panamericana (Ruta 5), sentido norte, ainda dentro de Santiago. Vamos subir o Chile, de comprido, por cerca de 1800 km. Não foi complicada a saída da capital chilena, mas muito lenta, porque pegamos o horário de rush com volume intenso de automóveis circulando dentro da cidade.
c) Transitamos o dia de hoje através de um cenário esplendoroso: ora margeando o Oceano Pacífico; ora cortando as montanhas da Cordilheira do Mar. O litoral chileno é uma coisa de louco! De pirar el cabezón! Pena que Rosane não estava ao nosso lado para apreciar o oceano de coloração extremamente azul, circundado por enormes falésias e rochedos que mergulham no mar. Vez por outra, extensas praias de águas raivosas surgem para trazer mais beleza ao cenário pistoresco.
d) Nossa média foi bastante prejudicada por 2 gargalos não esperados. A rodovia passa dentro das cidades de La Serena e Copiapó e, em ambas, enfrentamos longo engarrafamento de caminhões.
e) Adentramos a Região do Atacama por volta das 16 horas. O cenário muda radicalmente. Parece que entramos em outro planeta, tamanha a rapidez da mudança na geografia e na arquitetura da região. No Atacama não se observa a pompa de Santiago e dos balneários chilenos. Trata-se de uma localidade aparentemente esquecida pelos governos, com muitas casas construídas em madeirite ou em tijolos de barro; e que ainda abriga comunidades primitivas de índios, de pastores de lhama, de artesãos e salitreiros. O lugar, contudo, é lindo! Guarda belezas inexplicáveis em seu abandono, sua aridez e rusticidade. O altiplano tacamenho, constituído de cascalho e areia, possui colorações variadas a cada quilometro. Uma região intocada, exceto pelos ventos e pelo sol.
f) Chegamos em Chañaral, no litoral Pacífico, depois de pilotar horas sob frio intenso. A região desértica apresenta variações térmicas muito acentuadas. Ao entardecer, a temperatura estava abaixo dos 12 graus e foi caindo rapidamente à medida que escurecia. Hospedamo-nos em uma pousada modesta logo na entrada da cidade. Jantamos delicioso pescado local (Congrio a la Pobre), tomamos uma garrafa de vinho Pinot e fomos dormir cedo.
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Dia 20.outubro.2009, terça-feira
DE CHAÑARAL A SAN PEDRO DE ATACAMA – 713 km rodados, entre 7:50 h e 16:30 h. 8:40 h de pilotagem. Quilometragem total até aqui: 6562 km (Paulo) e 4561 (Flávio), sendo 358 km no Uruguai, 1802 km na Argentina e 1876 km no Chile.

Chegamos em San Pedro de Atacama, o local mais seco do planeta. A umidade do ar por aqui fica em torno de 11% durante quase todo o ano. Pelo caminho, paramos novamente no monumento La Mano del Desierto, nas proximidades de Antofagasta. Este local foi o ponto final da nossa viagem de 2007. De lá para cá já conhecemos quase tudo. Rever as cidades e vilas foi como encontrar amigos que não víamos há muito. Cada localidade desperta uma lembrança interessante: os pelicanos de Antofagasta; a chave do baú da moto que quebrou e nos obrigou a perambular atrás de um chaveiro por Sierra Gorda e Baquedano; o posto de gasolina em Calama que nos negou o uso do banheiro; os gêiseres, as lagunas, os flamingos e outras particularidades do Atacama surgiram vivas em nossa memória.
A chegada a San Pedro é linda! Um mergulho de vários quilômetros por dentro da Cordilheira do Sal até às portas da cidade. Tentei tirar fotos enquanto pilotava, mas não ficaram muito boas. Sem a Rosane na garupa, a viagem ficou mais pobre no que concerne aos registros fotográfico e videográfico.
Ficamos no mesmo hotel daquela viagem, jantamos no mesmo restaurante barato que encontramos na rua Toconao e contratamos um passeio para amanhã aos Vales de la Luna e de la Muerte com a mesma agência de turismo (Pachamama).
O vulcão Licancabur é visto de qualquer lugar e é uma marca registrada de San Pedro, uma cidadela no centro do Deserto, com apenas 1938 habitantes regulares e milhares de turistas de todos os cantos do mundo.














segunda-feira

DO ATACAMA A BRASÍLIA

Dia 21.outubro.2009, quarta-feira
PASSEANDO PELO DESERTO

a) San Pedro do Atacama mudou bastante desde 2007. Quando estivemos aqui, há exatos dois anos, só conseguimos vaga em hotel na sexta tentativa. Atualmente, somos os únicos hóspedes do mesmo albergue que nos acolheu naquele ano. Há pouquíssimos turistas na cidade: brasileiros, em sua grande maioria. Os europeus, que formigavam pelas ruas em 2007, desapareceram por completo. Parece ser reflexo da crise econômica que teve início no ano passado e que, aparentemente, abalou a estrutura turística daqui. As agências, que realizam tours pelo Deserto, estão cotizando vans e microônibus para minimizar o prejuízo. Os preços caíram vertiginosamente. Os passeios, que antes custavam 40 dólares, hoje estão em torno de 20 reais. Nossa moeda teve valorização acerca de 15% neste ano em relação aos pesos chilenos e argentinos. Essa viagem, como um todo, está sendo a mais barata que fiz ao exterior até então.
b) Observamos, também, pequenas mudanças na cidade. Algumas ruas foram calçadas e há dois canais por onde corre água permanentemente, que não existiam antes. Creio eu (suposição) que essas águas vêm do degelo andino. É interessante ver os cachorros se banhando nesses canais. O que tem de cachorro por aqui não é brincadeira! Não é à toa que o apelido da cidade é San “Perro” do Atacama (perro = cão).
c) Demos a sorte de conhecer um fenômeno que só acontece duas vezes por década: o do “deserto florido”. Este “florido” nada tem a ver com “flor”, mas com “geminação”. Um período em que as gramíneas se renovam e apresentam colorações entre o verde e o dourado. Uma novidade a mais para nossos olhos.
d) Mas vamos lá ao nosso diário de hoje:
Aproveitamos a manhã para visitar algumas lojas de artesanato, almoçamos cedo e fizemos uma sesta de 2 h antes de iniciar o passeio pela Cordilheira do Sal e pelos vales de La Luna e de La Muerte, contratado ontem. Os demais deslocamentos para o Salar do Atacama, Lagunas Miñiques e Miscanti, Gêiseres El Tatio, vulcões e povoados tacamenhos foram realizados na nossa última viagem. Como nosso tempo é curto, faremos apenas este passeio nesta oportunidade.
Aprendemos que o Atacama está instalado entre 3 Cordilheiras: Andes, Domeyco e Cordilheira do Sal. Nesta última, a do Sal, foram encontrados fósseis de crustáceos e de outros bichos marinhos a mais de 3 mil metros de altitude. Isso comprova que esta região já foi mar em alguma época muito remota.
Fizemos uma jornada de 4 h por dentro de um cenário impressionante. Não encontro palavras para decifrar o que se passou pela nossa mente enquanto transitávamos pela aquarela viva do deserto. Guardaremos para nós as impressões deste contato intimista com a natureza árida e primitiva do Atacama.
Quem nos acompanha nesta viagem terá que se contentar apenas com as fotos.


Dia 22.outubro.2009 - Quinta-feira
DE SAN PEDRO DO ATACAMA a JOAQUIM V GONZALES - 739 km rodados, entre 10:16 h e 20:38 h. 10:22 h de pilotagem. Quilometragem total até aqui: 7301 km (Paulo) e 5300 (Flávio), sendo 358 km no Uruguai, 2376 km na Argentina e 2041 km no Chile.

a) Tenho dado um azar danado com a aduana chilena em todas as ocasiões que passei por ela (acho que foram 8 ao todo). Em San Pedro são feitos os trâmites alfandegários de quem entra ou sai do Chile pelo Paso de Jama (fronteira com a Argentina). Sabíamos que a aduana só abriria às 8 h e cuidamos de chegar ao local 20 minutos antes. Para nossa infelicidade, hoje estava marcada uma espécie de “operação tartaruga” dos servidores da alfândega chilena. Tudo bem que houvesse lentidão nos trabalhos, mas abrir a aduana com uma hora e meia de atraso foi sacanagem! A gente lá no sol, encalacrado numa fila de 20 metros, foi desumano. Para pular um pouco este incômodo, adianto que só deixamos o local às 10:15 h, depois de duas horas e meia de espera. Este atraso, contudo, nos permitiu conhecer o Antônio Ramolo, de São Paulo, que estava voltando para Brasil com outros 2 companheiros em 3 motos V-Strom 1000(http://www.engenheirosnoatacama.blogspot.com/), e reencontrar com o João Cabrera, admirável motociclista de Recife que estava há 50 dias na estrada e já havia atravessado a Amazônia, a Colômbia, a Bolívia e o Peru, antes de chegar ao Chile, viajando sozinho numa V-Strom 650.
b) Numa viagem deste tipo, onde a estratégia tem que ser montada com certa precisão, mais de 2 h de atraso sempre deixa um rescaldo para o dia seguinte. Foi o que aconteceu! Tivemos que pernoitar cerca de 200 km antes do planejado, em Joaquim V Gonzáles, uma pequena cidade argentina muito bonitinha e arrumada.
c) Quando saímos de San Pedro, já no meio da manhã, sabíamos que o fator tempo seria preocupante em nossa estratégia de viagem (chegar a Foz do Iguaçu no dia seguinte), porque tínhamos pela frente 2 pontos fantásticos para fotografias, que nos tomariam bastante tempo: os Caracoles da Cuesta de Lipan (cerca de 60 km de curvas em descida íngreme de 1600 m) e o Cerro de las 7 Colores (em Purmamarca). Superaramos os 4800 m de altitude antes do início deste trecho. Passar por ali sem investir tempo em filmagens e fotos seria um crime! Logo que atravessamos o Paso de Jama, demos de cara com uma manada de lhamas pastando em derredor da pista. Que coisinha fofa essas lhamas!
d) Chegamos em Joaquim V. Gonzáles depois de pilotar mais de 1 hora no escuro da noite. Acomodamo-nos no hotel e saímos para comer uma boa parrillada a R$ 10 por cabeça. Entre uma taça e outra de vinho, eu e Paulo fechamos compromisso de chegar a Foz do Iguaçu amanhã a qualquer custo. Ligamos o GPS para averiguar a distância e ele nos apontou 1250 km até a fronteira do Brasil. Uma quilometragem muito longa para se fazer em cima de uma moto em um único dia. Nosso recorde de pilotagem diária até aqui ainda é de 1177 km, entre Bom Jesus (PI) e Brasília, quando retornávamos dos Lençóis Maranhenses, em 2007. Mas vamos tentar chegar a Foz amanhã.

Dia 23.outubro.2009, sexta-feira
DE JOAQUIM V GONZALES A FOZ DO IGUAÇU- 1258 km rodados, entre 5:45 h e 20:30 h. 14:55 h de pilotagem. Quilometragem total até aqui: 8559 km (Paulo) e 6558 (Flávio), sendo 358 km no Uruguai, 3628 km na Argentina e 2041 km no Chile.

a) Conseguimos chegar a Foz do Iguaçu! Elevamos nosso recorde para 1258 km rodados num único dia. Um feito digno de constar no “Guiness da Terceira Idade” (acabei de inventar).
b) Falando sério: foi duro pra caramba! Só conseguimos chegar a Foz graças a uma estratégia de paradas curtíssimas. Viajamos o dia inteiro com apenas um sanduíche no estômago e muitas garrafinhas d’água. Achávamos que não seria tão difícil cumprir esta quilometragem numa V-Strom: uma moto muito confortável e de alta potência. Nossa maior dificuldade, contudo, foi o tempo gasto nas muitas travessias de cidade (só entre Resistência e Corrientes foram 40 minutos), nas inúmeras barreiras policiais (na Argentina a polícia pára os veículos no meio da rua, que engarrafam o trânsito) e no propinoduto da polícia camiñera de Pampa de los Guanacos.
c) Convém lembrar que lá naquela cidade (Pampa de los Guanacos) tem um posto policial famosíssimo, especializado em achacar turistas estrangeiros, especialmente motociclistas. Eu garanto que é impossível passar por ali sobre uma moto sem que os policiais peçam um dinheirinho para “pintar o posto policial”. Até onde eu saiba, eles estão pintando este posto há 20 anos. Quando passamos por ali, em 2007, havia um policial mais velho tentando arrebanhar a tal “contribuição”. Parece que o cara se aposentou e agora há 2 jovenzinhos fardados no local fazendo a mesma coisa. Um exemplo claro que mais uma geração está se formando dentro desta prática. Deixei 10 dólares "para a tinta" e seguimos viagem.
d) Atravessamos 3 províncias argentinas (Chaco, Corrientes e Misiones) com a temperatura acima dos 30 graus. Para quem acha que o Deserto é quente, precisa conhecer o tal de Chaco argentino. Aquilo ali é a própria sucursal do inferno na Terra. Um calor duro de suportar!
e) Chegamos em Foz à noite (21:30 h no horário do Brasil). Havia 3 congressos sendo realizados simultaneamente e encontrar vaga em hotel estava difícil. Recebemos ajuda de um motoqueiro que nos abordou logo na entrada da cidade. Ele fez todos os contatos pelo celular e identificou um local de hospedagem para nós. Se tivéssemos que perambular pelas ruas, provavelmente não encontraríamos hotel pelo nosso próprio esforço. Esses motoqueiros prestam grande serviço aos turistas e vale a pena contratá-los. Uma forma de ajudá-los, inclusive. Eles recebem uma mixaria do hotel (algo entre 3 e 5 reais por diária). O turista só paga pelo serviço se quiser!


Dia 24.outubro.2009, sábado
PERAMBULANDO POR FOZ E CIUDAD DEL ESTE (PARAGUAI)


a) O dia amanheceu muito chuvoso. Chegou a cair pedra de gelo do céu. Tínhamos que trocar óleo das motos na concessionária Suzuki e fomos para lá embaixo d’água. Meu pneu traseiro está precisando ser trocado. Tinha feito uma combinação desde Brasília para adquiri-lo na própria concessionária, mas parece que o responsável pelo contato se esqueceu de mim. Foi curioso observar que em Foz não se encontra pneus. Claro, é mais barato comprar no Paraguai. Bastaria atravessar a ponte, caso não houvesse proibição de se importar este tipo de produto. Mesmo instalando os pneus no outro lado da fronteira (Paraguai), a alfândega brasileira tem ficado de olho. No meu caso específico, não havia o produto para meu tipo de moto em lugar algum pelos arredores: nem em Foz, nem no Paraguai ou em qualquer cidade próxima. Fazer o quê? Vou tentar voltar para casa rodando com o que tenho.
b) Resolvemos aproveitar o período da tarde para fazer compras em Ciudad Del Este. Eu só queria adquirir um HD externo de 500GB, mas acabei comprando outra máquina fotográfica com lente Leika, que estava a bom preço. Carácoles, véi! Ô programinha infeliz esse de ir ao Paraguai, ainda mais sob chuva. É a terceira vez que vou lá e me arrependo de todas elas. Um inferno caminhar por aquelas ruas superlotadas, cheias de lama, lojas cheias, atendimento precário e outras mumunhas mais. Os preços são maiores que os do Mercado Livre e bem próximos aos da Feira dos Importados, em Brasília. Mesmo assim, não deixei de comprar minhas poucas muambitas.
c) Como somos pessoas honestas e sérias (ui!), resolvemos “legalizar” nossas compras na Aduana brasileira, haja vista eu ter ultrapassado em 24 dólares (e o Paulo em 55) a cota de 300 dólares (para quem viaja por terra). Outra dificuldade pela frente: uma fila de dar nó, com cerca de 600 pessoas. Acho que gastamos 3 horas nesse procedimento de legalizar nossas aquisições paraguaias. Saí dali com uma fome de elefante e uma sede de gambá, doido para tomar umas cervejas. E assim o fizemos, em um boteco nas proximidades do hotel.

Dias 25 e 26 de outubro de 2009, domingo e segunda-feira (os últimos dois dias)
DE FOZ DO IGUAÇU A BRASILIA – 1658 km rodados em dois dias, em 22:52 h de pilotagem. Quilometragem total até aqui: 10.217 km (Paulo) e 8216 (Flávio), sendo 358 km no Uruguai, 2376 km na Argentina e 2041 km no Chile.

a) Saímos de Foz sem muita preocupação com horário, uma vez que gastaríamos dois dias de qualquer jeito neste deslocamento para casa. Andamos um pouquinho pelas rodovias pedagiadas do Paraná (onde moto paga uma média de 4 reais por pedágio) e fui parado pela Polícia Rodoviária no posto de Céu Azul. O policial parece que não foi muito com minha cara. Mandou desmontar os baús da moto e deu um baculejo completo na minha bagagem. Acho que ele estava pensando encontrar uma TV de 49 polegadas ali dentro (ou drogas), porque o tempo gasto para vasculhar meus bauletos daria para averiguar um caminhão inteiro. Não gostei muito do tratamento do cabra, mas ele estava fazendo o trabalho dele. Eu é que sou enjoado mesmo! Reconheço que estou errado.
b) No final do primeiro dia, dormimos em Lins (SP), em uma hospedaria bacaninha ao lado de um restaurante de rodovia (Pousada Colonial), a preço de 40 reais por quarto individual com TV, frigobar e ar condicionado.
c) Quando saímos de Lins, mal andamos 30 km e começou a chover forte. Cacilda! A chuva não parava e eu lá com meu pneu careca, tomando todo o cuidado para não escorregar no asfalto. Vez por outra um trecho seco, onde tentávamos compensar no acelerador a baixa média na pista molhada.
d) Chegamos em Brasília por volta das 18:00 h. Sempre me preocupo com aquela estatística que informa que 65% dos acidentes de moto acontecem nas proximidades de casa ou do trabalho. Pensando nisso, entrei na cidade pilotando na maior calmaria, cantando Martinho da Vila dentro do capacete: “É devagar, é devagar, é devagar, é devagar, devagarinho...”.
e) Mais uma vez adentro minha casa molhado até as cuecas (não é força de expressão), embaixo daquele aguaceiro que nos acompanhou desde o Estado de São Paulo. Pelo menos, chegamos com a “alma lavada” (e com a moto imunda), fechando mais uma aventura maravilhosa pela América do Sul, felizes por ter ido para tão longe e voltado inteiros para casa.
f) O coração pulsa feliz, realizado. Essas experiências têm sido importantes para nós no transcorrer dos anos e têm produzido grandes transformações na nossa forma de ver o mundo, de compreender a espécie humana, de aceitar as diferenças culturais e sociais. Têm nos ajudado a ampliar nosso senso de amorosidade pelo planeta, pela natureza, pela família e pelas pessoas com quem convivemos. Viajar, seja lá para aonde for, sempre abre nossa alma para algo novo e transformador. Não foi diferente desta vez!

Agradeço aos amigos que tiveram a paciência de nos acompanhar durante nosso trajeto. Encerro por aqui a narrativa. Um grande abraço a todos.



Quem sou eu

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Sou servidor aposentado do Ministério do Planejamento, motociclista há algumas décadas, em Brasília. Também sou antropólogo e sociólogo por formação; escritor, violeiro e compositor por vocação; e estradeiro por opção. Criei esse blog para compartilhar, com quem demonstre interesse, minhas viagens de moto pelo Brasil e por outros países. Contato pelo email: flaviomcas@gmail.com